Ao tinido do sino, uma quase miríade de alunos precipita-se salas afora ansiosa de chegar a casa. Diferente dos demais, dois irmãos campestres ainda precisam percorrer um longo caminho até seu destino final.
Sob o luar que ilumina palidamente a estrada ora de areia frouxa, ora de terra batida, os irmãos montados numa bicicleta magrela, avermelhada, cujos aros produziam um ruído que se misturavam a tantos outros de mais uma noite fria e desconstelada.
Mochila às costas, o mais velho pedalava sofregamente a ponte de pedras, recoberta de barro, serpenteando o caminho que já sabia de cor, evitando as crateras que espelhavam na água o astro que o mais novo acabara de aprender na aula de geografia não ser a morada de São Jorge.
A ponte tinha seu termo numa baixada em cujo cimo destacava-se um centenário cajueiro de longas hastes e vasta folhagem que na noite semi-escura contorneava múltiplas imagens na mente infantil e observadora.
Sentado no quadro da bicicleta tremulado pelo terreno irregular, o mais novo puxava um cordão cheio de contas que escorriam em seus dedos acompanhado de litanias silenciosas que o enchiam de coragem para atravessar aquela noite invernal.
Nem sabia o garoto que ali estava sendo forjado o amor, a confiança e a piedade àquela que o ajudaria a atravessar muitas outras noites escuras de sua vida: a Virgem Maria.
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