15 de mai. de 2009

NO DIA SEGUINTE

Era uma noite fria e tempestuosa. Carol dirige-se ao quarto de sua filha caçula que temia relâmpagos e trovões. Parada à porta, a jovem mãe observava na penumbra a linda criança dormindo tranquilamente. Era Camila, nome que sempre sonhou em colocar na primeira filha.
Ela lembrava-se de uma outra noite também, como aquela, tempestuosa em sua vida. Era o março de 2003. Carol e os amigos tinham escolhido passar um final de semana agitado na praia de Icaraí, Ceará. Ainda no carro comentava com sua amiga Bruna, "esse final de semana promete...", disse mascando o chiclete, revirando a bolsa e mostrando para a colega o 'kit', dito, indispensável para as baladas, que continha entre outras coisas, camisinhas.
Estas lembranças de Carol foram cortadas bruscamente por pancadas fortes na porta. A chuva intensificou-se. A mãe apavorada tomou em seus braços Camila. Quieta, a pequena de bochechas rosadas e olhos claros olhava a mãe aflita e dizia-lhe sem parar:"Mamãe não me abandone!"
Um estrondo ainda maior fez-se ouvir. Carol aterrorizada contra a parede ouvia passos velozes em sua direção. Ela não acreditava no que via à sua frente. Tratava-se de uma espécie de porco selvagem que rosnava ferozmente e aproximava-se com suas presas afiadas e olhos arregalados fixos em sua filha.
O selvagem animal impiedosamente arrancou a pequena Camila de sua mãe. Carol definhando até o chão, emudecida assistiu toda cena. Catatônica observava as mãos salpicadas de sangue e o ladino animal que calmamente saía do quarto. Ouvia-se do lado de fora da casa algazarra de festa que abafava o choro de Carol e seus gritos histéricos.

Um outro estriduloso barulho rompeu no quarto.

"Calma Carol, calma! Você teve um pesadelo, acalme-se." disse Bruna, amiga de Carol apertando-lhe contra o peito.
Carol suava incontinente. Soltando-se de Bruna corre ao banheiro e puxa da gaveta uma cartela de comprimidos desfalcados de pílulas do dia seguinte. Com o olhar fixo para o nada, arriando-se até o chão lembrava-se do pesadelo e perguntava para si mesma qual daqueles comprimidos havia roubado-lhe Camila naquele final de semana de março de 2003.

Nenhum comentário: