21 de fev. de 2009

NO DIA SEGUINTE




Era uma noite fria e tempestuosa. Carol dirige-se ao quarto de Camila, filha caçula que temia os relâmpagos e trovões que maltratavam aquela noite solitária. Parada à porta a jovem mãe observava na penumbra a linda criança que dormia tranquilamente. A criança chamava-se Camila, nome que sempre sonhou em colocar na primeira filha. Um sorriso desponta de seus lábios e ali naquele lugar começa pensar.
A jovem mãe lembrava-se de outra noite também tempestuosa em sua vida. Era fevereiro de 2006. Carol e os amigos tinham escolhido passar o carnaval em Jeri, no litoral cearense. Ainda no carro comentava com sua amiga Bruna: "esse final de semana promete...", disse mascando o chiclete, revirando a bolsa e mostrando para a colega o 'kit', dito, indispensável para os dias de farra, que continha entre outras coisas, camisinhas.
Estas lembranças de Carol foram cortadas bruscamente por pancadas fortes na porta. A chuva intensificou-se. A mãe apavorada tomou em seus braços Camila. Quieta e atordoada a pequena de bochechas rosadas e olhos claros olhava a mãe aflita e dizia-lhe sem parar: "Mamãe não me abandone!”
Um estrondo ainda maior fez-se ouvir. Carol aterrorizada e pressionando-se contra a parede ouvia passos fortes e velozes vindo em sua direção. A jovem não acreditava na imagem à sua frente. Tratava-se de uma espécie de porco selvagem que rosnava ferozmente e aproximava-se com suas presas afiadas e olhos arregalados, fixos em sua filha.
O selvagem animal impiedosamente arrancou a pequena Camila de sua mãe que definhando até o chão, emudecida assistiu toda cena. Catatônica observava as mãos salpicadas de sangue e o ladino animal que calmamente saía do quarto. Ouvia-se do lado de fora da casa algazarra de festa que abafava o choro de Carol e seus histéricos gritos.

Um estriduloso barulho rompeu-se no quarto.

"Calma Carol, calma! Você teve um pesadelo, acalme-se." disse Bruna, amiga de Carol apertando-lhe contra o peito.
Carol suava incontinente. Soltando-se de Bruna corre ao banheiro e puxa da gaveta uma cartela de comprimidos desfalcados de pílulas do dia seguinte. Com o olhar fixo para o nada, arriando-se até o chão lembrava-se do pesadelo e perguntava para si mesma qual daqueles comprimidos havia roubado-lhe Camila naquele carnaval.

Vanderlúcio Souza

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