3 de dez. de 2008

“O TEMPO EM SANTO AGOSTINHO E PASCAL I”
“O TEMPO EM SANTO AGOSTINHO E PASCAL”
Por Luiz Henrique de Araújo*


Santo Agostinho no Capítulo XI da sua obra Confissões, faz uma análise acerca do tempo, ressaltando o seu aspecto psicológico, ou seja, a maneira como nós o apreendemos, a noção do antes e do depois que as coisas gravam em nossa alma.Segundo ele, o tempo tem início no ato criador de Deus, ou seja, quando o mundo começou a ser, a existir. No ato de falar de Deus fomos criados. Podemos comprovar isso no livro do Gênesis.Somente quando o tempo está decorrendo é que posso percebê-lo e medí-lo, pois não se pode medir o tempo passado que já não existe ou mesmo o futuro que ainda não chegou.Ao invés de afirmar: passado, presente e futuro, Santo Agostinho nos diz que a maneira correta de afirmar isso é: a lembrança das coisas passadas, a visão presente das coisas presentes e a esperança das coisas futuras.O tempo para Santo Agostinho não é outra coisa senão uma distensão da alma, ou seja, é a existência do eu no tempo.O tempo é tempo porque passa, pois senão passasse já não seria tempo, mas sim eternidade.Se para Santo Agostinho o tempo é a distensão da alma, ou seja, é a existência do eu no tempo, pode-se perceber que o “Conheça-te a ti mesmo” socrático está presente em sua filosofia. O homem precisa voltar para o interior de si para conhecer a si mesmo. Nesta volta, ele colhe a si mesmo como um ser que, para ser ou existir, necessita do Ser Imutável (eterno), ou seja, Deus. Ora, se o homem conhece a si, sabe que sua existência depende de um ser eternamente existente, uma vez que a existência humana não pode ser causada pelo próprio homem. No interior de si e diante “Daquele que É”, ou seja, de Deus que habita o seu ser mais profundo, o homem colhe a si: diante “Daquele que É” colhe-se a si como um eu sou. Nesse instante do tempo nada antecede nem sucede o Eu. Desse modo, colhendo a si mesmo como um “eu sou” (existo), experimenta os vestígios da eternidade, pois colhe a sua existência no agora.Portanto, no instante em que eu capto que sou (esse instante sem espaço), eu experimento a eternidade, pois somente Deus é, ele é “Aquele que É”. Este agora é vestígio da eternidade.