DEUS NÃO FALA NO GERÚNDIO

Pior que ouvir é constatar a cultura ‘gerúndica’. Por um lado estão os políticos sempre prometendo um arrazoado de avanços sem cumpri-los, observamos uma constelação de ‘estrelas fugazes’ que nem curso básico de teatro fazem e que estão brilhando na mídia e, de outro, nós, tentando viver, tentando dirimir os problemas quotidianos que se precipitam sobre nós e nos impedem, tantas vezes de usar verbos como consegui, conquistei, trabalharei, falhei, recomeçarei, amo! servirei, perdoei.
Ao ler a Bíblia nos deparamos com Deus que fala a Abraão: ‘farei de ti o pai de uma multidão de povos’ (Gn 17,5), que se revela a Moysés, ‘Eu sou, o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’ (Ex 3,6), e que se declara ao povo escolhido: ‘É meu povo de Israel, esses homens que farei nascer sobre o vosso solo; serás a sua posse e herança, e não os privarás mais dos seus filhos (Ez 36,12).
O Deus de Israel não fala no gerúndio!
No Novo Testamento Jesus, o Verbo de Deus, assim como o Pai, também não fala no gerúndio. Seu ensinamento é claro, objetivo, exeqüível e não dá margem para interpretação dúbia: Amai-vos, perdoai, orai, vigiai, isto é o meu corpo, isto é o meu sangue, eis que venho em breve, em verdade em verdade vos digo, o zelo da tua casa me consome, etc.

Quanto a nós somos contingentes, somos seres necessitados. Nossa linguagem, não poderia ser diferente, expressa nossa limitação. Por conta disso, faz-se necessário haurir do Verbo de Deus a linguagem da Caridade que não fica esperando irmos a Ele, ao contrário, resolutamente, vem a nós e nos envia a amar e servir sem protelar.
A cultura do ‘gerundismo’, reflexo de tempos de relativismo prático, demonstra a falta de objetividade e, o pior, a falta de sentido de vida. Nossa cultura, infelizmente, nos mal acostuma a permanecer na indiferença e no ódio, vivendo vidinha mais ou menos, amargando desilusões, joeirando palavras vãs. A cultura do Verbo Encarnado, ao contrário, nos faz ir, nos põe em movimento, em ação, estabelece metas e objetivos, circunscreve o tempo, abre-nos novos horizontes.
Quem insiste em permanecer vivendo em círculos, sem ordenar sua vida para o amor não descobre o que é viver a fascinante aventura do amor, eterno movimento de doação e reciprocidade, contínua passagem do gerundismo para o verbo, do estado néscio para a virtude,
Vanderlúcio Souza